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Resenha: Uma família feliz - Raphael Montes

  • Foto do escritor: AMF
    AMF
  • 20 de dez. de 2024
  • 4 min de leitura
capa do filme, capa do livro e foto dos personagens do filme uma família feliz

capa do livro ''Uma família feliz''

Sinopse: Eva tem a vida perfeita. Seu marido é um jovem advogado em ascensão. Suas filhas gêmeas são lindas, inteligentes e saudáveis. Seu trabalho, a arte reborn, é um sucesso na internet. À sua volta, tudo está à mão: o Blue Paradise, condomínio fechado de classe média-alta na Barra da Tijuca, oferece todo tipo de serviço para que ela não precise sair do conforto de seu lar. Eva tem a vida perfeita ― até descobrir que está grávida e seu mundo virar de cabeça para baixo.


Eva é uma mulher com um passado difícil, diferente do seu marido que veio de uma família mais afortunada, ela passou por uma família turbulenta e repleta de necessidades. Ela parece ser uma mãe dedicada, mas, pelo visto esse nunca foi o seu sonho. Talvez, o máximo que ela sonhava em ter relacionado a crianças seja o seu trabalho como cegonha de newborn. As gêmeas não parecem ser um problema, mas o provável espaço que Eva tende a ocupar pode ser, já que a mãe delas morreu, de uma forma que nem mesmo elas sabem.

trecho de entrevista

A notícia, a gravidez, o parto e o pós-parto são sequências de acontecimentos estressantes, algo que não faz bem nem para a mãe, nem para o bebê. Tudo que a Eva faz é aceitar e tentar lidar com a ideia de ter uma nova criança, ainda mais sendo um desejo de Vicente. Então, não é uma surpresa que a relação de Eva com Bruno seja conturbada. Aos olhos dela o bebê é irritante, provocador e faz de tudo para que ela não esteja em paz, mesmo que Eva se esforce para ser uma mãe boa e cuidadosa


É aí que entra aquele que parece ser a solução, mas que, na verdade, só potencializa a dor e a confusão: o álcool. Entre uma taça e outra, Eva começa a ter lapsos de memória, acorda em locais da casa onde não estava antes, e suas roupas são trocadas sem que perceba. Para piorar, machucados começam a aparecer nas crianças, sem que se saiba o que realmente aconteceu. Nesse livro, Raphael utiliza de forma hábil as características e os conflitos relacionados à saúde mental de Eva, desenvolvendo uma narrativa que nos conduz profundamente ao seu declínio. O único ponto negativo, na minha experiência, foi a extensão de alguns períodos na linha do tempo da história. Embora muitos eventos sejam impactantes, a narrativa em certas partes tornou-se longa, o que acabou por deixar a leitura um pouco monótona.

cena do filme uma família feliz, família sentada a mesa tomando café da manhã
(Divulgação/Pandora Filmes)

Uma das coisas que eu gosto deste livro é a forma que ele critica aquela classe social. A Eva é uma mulher que veio de uma vida humilde e sofrida, ela tem muitos pensamentos que criticam as suas ''amigas'' e vizinhas, que são todos válidos, pois naquele condomínio tudo é maquiado e fantasiado como perfeito. Contudo, pensando na vida que a protagonista leva, ela também faz parte dessa vida fake, mesmo que tenha menos futilidade nas suas vivências, ela não está satisfeita com sua vida de casada. Então, a Eva faz papel de um ''mal lavado'' falando mal do sujo.


A todo momento recebemos detalhes de como as coisas poderiam ser melhores: o Vicente trabalha muito, as crianças não a aceitam tão bem, ela não consegue focar o trabalho artístico, o Vicente não valoriza o trabalho dela. Mas, da porta para fora, eles são uma família linda, feliz e exemplar. Eles moram em um condomínio fechado que possui tudo para que você não tenha que sair do local para nada. É um ambiente que te prende, por uma segurança social que ameaça aquela realidade elitista, mas também te intimida, pois qualquer informação torta que seja exposta é motivo para fofoca, vergonha e descredibilidade.



Outro ponto interessante é a forma que a maternidade aparece no livro. A Eva é madrasta das duas meninas que, inicialmente, aparentam ter uma boa relação com ela. Mas vemos que existem alguns pontos que não fluem bem: as meninas sentem falta da falecida mãe e possuem muito apego com o pai, isso incomoda a Eva, pois ela se sente excluída dentro da própria casa. O desejo do Vicente em ser pai novamente e a gravidez, mesmo que não tão deseja por ela, meio que surgem como uma maneira de construir essa maternidade exemplar e feliz que é socialmente esperada. O complicado é que no fundo disso tudo existe uma mulher muito traumatizada pelo seu histórico familiar, ela parece estar no muro entre: querer ser uma boa mãe e provar para ela mesma que consegue; e fugir dessa realidade que a leva para lembranças ruins.


Perto do final do livro a narrativa acelera novamente e muitas coisas acontecem: acusações, cumplices, mentiras, incertezas. Tudo isso provoca no leitor uma intensa fome para entender o que é verdade e quem é o (a) culpado (a). Até o final do livro a sensação que eu tinha era de estar sem fôlego por conta das revelações sequenciadas que aconteciam; toda a intensidade que faltou em uma parte do meio apareceu. Eu gostei do final, para mim foi inesperado, mas acho que merecia mais detalhes, nada que modificasse drasticamente a linha construída.

poster do filme uma família feliz e descrição da adaptação para o cinema

Eu fiz o meu esforço para apenas assistir ao filme quando terminasse o livro. Acho que foi tudo bem retratado, em termos de cenas, mas, inevitavelmente, tive muito a sensação de ser corrida a história. Adaptações raramente são melhores que os livros. As atuações são bem legais e a Grazi Massafera foi um sucesso como Eva. Como filme, eu achei bem fraco; sem ter lido o livro eu provavelmente não teria imergido tanto na história. O final do filme, diferente do livro, não me cativou tanto. A mudança foi mínima, mas para mim não faz sentido a modificação.


Muito obrigada pela leitura! Segue o trailer para vocês:



SOBRE O AUTOR

foto de raphael montes

Raphael Montes nasceu em 1990, no Rio de Janeiro. Escritor e roteirista, publicou os romances Suicidas, Dias perfeitos, O vilarejo, Jantar secreto e Uma mulher no escuro, vencedor do Prêmio Jabuti 2020. Seus livros estão traduzidos em mais de 25 países e têm os direitos de adaptação vendidos para o teatro e o cinema. Escreveu os filmes Praça Paris, A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais. É criador, roteirista-chefe e produtor-executivo de Bom dia, Verônica, série de sucesso na Netflix, vencedora do Prêmio APCA 2020 nas categorias melhor ator, melhor atriz e melhor dramaturgia (AMAZON).



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