Hoje, enquanto eu vasculhava os arquivos do meu computador, eu achei alguns comentários sobre um episódio de Law & Order que uma amiga minha pediu para eu escrever que foi usado em um trabalho da faculdade. Eu nunca tinha visto essa série e precisava dar opiniões sobre um EP específico e tal; achei interessante a proposta, escrevi e resolvi publicar aqui por causa do assunto que é abordado no EP. Claro que na série tem uma ficção, criação ali por trás, então, possa ser que algumas partes sejam um pouco aumentadas, mas ainda é válido usar como exemplo para as situações que nos rodeiam cotidianamente quando se trata de violência contra mulheres, estupro e entre outros crimes.
Sinopse da série: A vida e os desafios da Equipe Especial de Elite do Departamento de Polícia de Nova York. A "Special Victims Unit" (Unidade de Vítimas Especiais) investiga os crimes de caráter sexual, seguindo os passos dos detetives Elliot Stabler (Christopher Meloni) e Olivia Benson (Mariska Hargitay). Com sabedoria, eles precisam ao mesmo tempo balancear os efeitos das investigações em suas vidas pessoais. (Adoro Cinema)
Sinopse do EP: Logo depois de uma jovem garota, Laine McAlister (atriz convidada Diora Baird) ser estuprada no vão das escadas do seu prédio, os detetives Olivia Benson (Mariska Hargitay) e Elliot Stabler (Christopher Meloni) se encontram com Laine no hospital extremamente abalada e com um grande corte na mão. (Prime Vídeo)
Hoje eu assisti ao episódio 16 da 11ª Temporada de Law & Order: SUV, apesar de gostar muito de séries com essa temática, essa foi a primeira vez que assisti a série. Já que esse meu comentário foi pedido, separei pontos para ressaltar aqui. Não sei se é algo normal da série ou se eu interpretei mal o comportamento, mas achei que os investigadores foram um pouco indelicados com a vítima que abuso sexual pois, mesmo tendo passado por um crime horrível, a mulher não foi levada à um psicólogo ou nem sequer teve tempo para processar todo o acontecimento de uma forma calma; imediatamente foi questionada, interrogada, levada para a cena do crime e entre outros. Eu sei que é de devida importância toda a denúncia ser feita e processada o mais rápido possível, porém é necessário também ter executada a parte que cuida do psicológico da vítima. Talvez essa parte apenas não foi mostrada, assim como o exame para detectar vestígios do estuprador na pessoa, porém me pareceu um tanto duro demais o tratamento com a Laine.
Outro ponto que eu achei interessante foi o fato da personagem da vítima ter características que são muito julgadas durante processos criminais como esse, ou seja, ela é uma mulher sexualmente resolvida, atraente, veste-se de maneira ‘‘provocativa’’ para os olhos da sociedade, uma pessoa que parece fútil; um combo perfeito para o julgamento, principalmente se for masculino. A partir disso e dos comentários adicionais das pessoas que conheciam a personagem, os personagens policiais e o público, como eu por exemplo, foi conduzido à interpretar a vítima de uma forma diferente: ‘‘talvez ela esteja mentindo’’, ‘‘talvez ela tenha provocado ele’’, ‘‘talvez ela queira atenção do ex-namorado’’ e entre outros comentários. Nisso tudo o que eu quero pontuar é que: sim, os investigadores tem que pontuar tudo isso para desenvolver tudo que é necessário e chegar à uma conclusão, porém, ao mesmo tempo temos que enxergar até que ponto isso é correto, imparcial e não vai ferir a integridade da possível vitima que, seguindo o roteiro, passou por um crime terrível e ainda tem que ser julgada pelo que ela talvez aparente ser. (Obs: notei esse comportamento nos policiais, maioria homens, e na moça que estava grávida) Talvez tenha faltado um pouco de cuidados com ela, o corte da mão, por exemplo, um simples exame teria evitado aquilo tudo.
Agora, falando sobre a testemunha principal, eu achei dolorosa e inesperada a história por dela; foi, literalmente, de arrepiar os momentos em que ela expõe tudo o que passou no Congo, sem total proteção da lei ou de alguém que ela possa confiar. São duas situações diferentes, porém possuem suas similaridades, vemos o sofrimento de ambas as mulheres e de como elas foram tratadas, uma julgada por quem deveria defende-la e a outra totalmente ignorada por quaisquer autoridades; passando por inúmeros estupros seguidamente. Disso e das diversas leituras que podemos tirar da nossa ''antiga'' e atual sociedades, vemos claramente que, independentemente de onde você venha, as mulheres nunca estiveram em segurança, principalmente quando se é de uma etnia/raça diferente. Além disso, a forma com que a testemunha foi imediatamente presa e quase deportada me deixou incomodada em como, principalmente nos EUA, as histórias dessas pessoas que fogem do seu país de origem é imediatamente categorizada como uma ameaça; vemos ai o perigo de uma única história, como aponta Chimamanda Ngozi. Na série pareceu que eles nem ao menos conheciam todo o processo que estava acontecendo naquele país, como a cultura era, como a guerra estava afetando aquela sociedade e entre outros pontos que deveria ser cruciais em medidas como essa.
Por último, mas não menos importante, eu achei o episódio muito bom. O motivo de eu gostar muito de séries assim é justamente pelo fato delas mostrarem a realidade, histórias que, apesar de serem fictícias, foram baseadas em acontecimentos que fazem parte do nosso cotidiano sem nem notarmos; muitas vezes podem parecer chocantes, mas de extrema importância.
Comentários adicionais depois de reler esse texto tempo depois: fiquei surpresa que eu não dei nomes aos acontecimentos que as vítimas sofreram, ou seja, racismo, xenofobia, machismo e etc. Talvez tenha sido por eu poder apenas entregar um texto de uma página ou eu só queria deixar mais subentendido que definido de cara (?). Em relação as minhas conclusões gerais, eu continuo concordando com tudo e acho que a situação da vítima ao reportar um crime é bem real. Já ouvi alguns relatos sobre como foram feitas algumas abordagens na delegacia da mulher, por exemplo, e a situação é ruim igual, inclusive é algo que tem que ser reparado urgentemente; imagina ir denunciar um crime e sofrer acusações, ver acontecimentos horríveis, presenciar agressões e etc... Além disso, acho que seria essencial a presença de mais mulheres em investigações desse tipo, isso não assegura um não julgamento errôneo, porém é verídico que algumas vítimas de abusos causados por homens muitas vezes não querem reportar esses crimes para homens oue muitas vezes, ver outros homens. Então, seria muito importante ter esse comentário no texto e falar da necessidade da preparação das investigadoras também.
Acho que é isso, não consigo pensar em mais nada para adicionar. Um abraço e até a próxima!
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